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Brigada Indígena protege agroflorestas no Sul do Amazonas

Composta por 23 indígenas, a Brigada Voluntária foi formalizada em julho de 2024 e já atuou em 22 ocorrências na Terra Indígena Caititu, no sul do Amazonas

Brigada Indígena protege agroflorestas no Sul do Amazonas
Brigada Indígena protege agroflorestas no Sul do Amazonas (Foto: Reprodução)

“Nós precisamos proteger nosso território. Se a gente não cuidar do que é nosso, daqui uns tempos vamos estar que nem na cidade, porque na cidade a gente não tem mais o que respirar, é só fumaça”, desabafa Raimundinha Rodrigues de Souza, chefe da recém formada Brigada Indígena de Incêndio da Terra Indígena Caititu. Isso porque Lábrea, cidade localizada no sul do Amazonas e próxima da Terra Indígena Caititu, lar do povo Apurinã, está em terceiro lugar no ranking dos municípios com mais focos de incêndio em 2024. Segundo levantamento do https://terrabrasilis.dpi.inpe.br/queimadas/situacao-atual/situacao_atual/ 2.064 alertas foram emitidos no município até agosto deste ano.


Com a intensificação do desmatamento e das queimadas ilegais, os impactos foram sentidos na Terra Indígena Caititu, onde o povo Apurinã desenvolve suas roças tradicionais e Sistemas Agroflorestais (SAFs). Através do projeto Raízes do Purus, realizado pela Operação Amazônia Nativa (OPAN) e patrocinado pela Petrobras e Governo Federal, o povo Apurinã implementou 37 unidades de SAFs, distribuídas em 21 aldeias, somando uma área de 41,6 hectares, que estão em plena produção de frutos, feijões, tubérculos e outros alimentos. 

https://raizesdopurus.com.br/blog/povo-apurina-cultiva-416-hectares-de-agrofloresta-na-terra-indigena-caititu-no-amazonas/ Importantes para a segurança alimentar e geração de renda dos Apurinã, os SAFs sofreram perdas relevantes em anos anteriores devido a queimadas ilegais que ocorreram no entorno do território e acabaram adentrando a Terra Indígena durante o período de seca.


“Eu perdi meu SAF por causa de fogo e em outras aldeias sofremos perdas também. Foi aí que a gente, junto com a OPAN e o projeto Raízes do Purus, teve a intenção de organizar um curso para formar os indígenas como brigadistas”, relata Tata Apurinã, tesoureiro da Associação de Produtores Indígenas da Terra Indígena Caititu (APITC) e um dos pioneiros na implementação de agroflorestas no território Apurinã.


A criação da 1ª Brigada Indígena da TI Caititu


O processo de criação da Brigada da Terra Indígena Caititu começou em 2022. Na época, Francisco Padilha, indígena do povo Apurinã que já tinha formação na área de combate a incêndios, ofereceu uma formação básica a um pequeno grupo. “Eram sete pessoas e já fizeram um bom trabalho. Agora são 23 brigadistas que estão atuando dentro da nossa terra”, conta Tata Apurinã. No mesmo ano, os Apurinã também fizeram a aquisição de equipamentos necessários para o trabalho, como abafadores, bomba costal, rádio comunicadores e equipamentos de proteção individual.


Em 2023, em uma articulação liderada pela APITC e OPAN, foi solicitado ao Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), através do Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais (Prevfogo), a aplicação de um curso técnico avançado para aprimoramento e formalização da Brigada Indígena de Incêndio da TI Caititu. O curso foi finalmente aplicado em 2024, formando os 23 indígenas que já estão atuando voluntariamente no combate aos focos de incêndio.


Tata Apurinã conta que, mesmo com a alta ocorrência de queimadas ilegais no entorno da Terra indígena Caititu, não houve perdas nos plantios graças ao trabalho realizado pela Brigada. “Nós dependemos da nossa floresta em pé, dependemos dos nossos plantios em pé, então não vamos deixar que nada de ruim aconteça. Essa Brigada está sendo fundamental para dentro da nossa terra. A gente quase não perdeu nada esse ano, muito pelo contrário, a gente só ganhou. Foi um avanço!”


O dia a dia do combate aos focos de incêndio


Atualmente, a Brigada Indígena de Incêndio TI Caititu é formada por 23 pessoas, sendo 19 brigadistas, três chefes de esquadrão e uma chefe geral da brigada. Para otimizar o atendimento das ocorrências, as pessoas que integram a brigada são divididas em três grupos, chamados de esquadrões. “Como a gente trabalha com três esquadrões, cada dia a coordenadora geral orienta que um esquadrão faça a rota dentro da terra, principalmente para ficar de olho aqui nos limites da terra indígena”, explica Tata.


Os brigadistas atuam em ações emergenciais e também nas ações de queima controlada de pequenas áreas para abertura dos roçados. Do dia 24 de julho até 27 de agosto, o grupo contabilizou 22 ações no total, demonstrando que o trabalho é intenso e exaustivo. “A gente vem sendo pego de surpresa aqui na Terra Indígena Caititu. Do nada a fumaça está subindo e temos que largar tudo e imediatamente correr para combater”, relata a chefe da brigada.


Raimundinha conta que há dias em que o trabalho dos brigadistas dura o dia inteiro e adentra a noite. Devido a alta demanda, alguns já pensaram em desistir, mas Raimundinha sempre incentiva o grupo, destacando a importância do trabalho de proteção.


“Hoje a brigada é muito importante para a proteção não só da terra, mas dos SAFs e das pessoas. Porque o indígena se alimenta do que ele planta. Então se um fogo desses acaba com todos aqueles SAFs que o indígena plantou ali para ser sua sobrevivência, como será que vai ficar a vida desse indígena?”, reflete a chefe da brigada.

Fonte: Deproposito de comunicação de causas 

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