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Porque o modelo de mesa proprietária ganha popularidade no Brasil

Especializadas no segmento de day trade, empresas contribuem para o crescimento do mercado financeiro e para a democratização do acesso à Bolsa de Valores

Porque o modelo de mesa proprietária ganha popularidade no Brasil
Porque o modelo de mesa proprietária ganha popularidade no Brasil (Foto: Reprodução)

Uma simples busca no Google pelo termo “mesa proprietária” e pronto: cerca de dez a 12 nomes de empresas do segmento aparecem logo na primeira página da pesquisa. E pensar que até mais ou menos o ano de 2017, não havia nenhuma companhia do ramo no Brasil. Pelo menos não da forma como existem hoje. E a importância disso é que elas estão contribuindo para democratizar o acesso ao mercado financeiro, já que preparam e empregam boa parte dos operadores registrados na Bolsa de Valores.


De acordo com dados da B3, até março deste ano, dos 6 milhões de investidores registrados, em torno de 1 milhão fazem day trade, que é a compra e venda de ativos no mesmo dia. Cerca de 700 mil trabalham com ações e outros 300 mil com minicontratos. Por se tratar de um modelo de negócios novo no Brasil, ainda não há estatísticas sobre o percentual destes traders que atuam por meio de mesas proprietárias.


A razão para o crescimento deste negócio é que ele permite às pessoas operarem sem arriscar o próprio capital. Antigamente, a pessoa interessada em especular com compra e venda de ações ou com outros ativos como o dólar, por exemplo, precisavam abrir uma conta numa corretora e arriscar o próprio dinheiro. Até hoje, muitos iniciam sem o devido conhecimento e perdem dinheiro no mercado, o que traz a má fama para a profissão trader.


Com o surgimento das mesas proprietárias isso está mudando porque o profissional não arrisca o próprio capital e sim o da mesa, que estipula o limite máximo de perda que cada operador pode ter. Ao atingir o limite, o sistema trava e não é mais possível continuar. O melhor é que o operador não precisa pagar pelo prejuízo, pois a mesa o assume. Isso não significa que o modelo seja uma farra. O trader que atinge o limite de perda é automaticamente desligado e precisa passar por um novo teste para voltar a ter acesso ao sistema.


E aí tem uma questão que certamente é a mais importante. As mesas proprietárias não aceitam qualquer pessoa. Elas precisam adquirir conhecimento por meio de cursos gratuitos e pagos, muitos disponibilizados pelas próprias mesas, e fazer testes práticos. Ao passar no teste, o início é imediato. Desta forma, contribui-se para a formação e especialização de profissionais da área. Fundada em 2017 e considerada a maior mesa proprietária do Brasil, a Axia Investing é uma das empresas que mais atraem traders. Atualmente ela conta com 7 mil profissionais cadastrados.


“Ao trader não é exigido curso superior nem formação técnica. Mas é preciso entender como o mercado financeiro funciona. Por isso, quem deseja atuar nesta área tem de estudar o tema e fazer o teste de admissão. Ao passar vem a segunda parte, que é aprender na prática, operando ações, minicontratos, ganhando e perdendo, mas sem ter prejuízo. Observe que a mesa proprietária é uma escola sem igual, pois ensina ao mesmo tempo que remunera. Isso é bom porque no final de tudo, as mesas geram renda e colocam profissionais qualificados no mercado financeiro”, comenta Antonio Marcos Samad Júnior, CEO da Axia Investing.

Gente como a gente


Não por acaso, a Axia tem atraído pessoas dos mais variados níveis sociais, alguns com formação superior, outros com formação técnica e até mesmo pessoas sem profissão, mas que resolveram aprender sobre o mercado financeiro para obterem renda extra. É o caso de Diego Sampaio, residente no município de Duque de Caxias (RJ). Casado, 38 anos, pai de três filhos, ele trabalha desde menino na lanchonete que acabou herdando do pai. Aos 15 anos decidiu que não iria mais para a escola porque preferia ganhar dinheiro trabalhando na lanchonete. E assim foi.


Mesmo sem formação ele aprendeu muito e se acostumou com os riscos tão comuns àqueles que mantém o próprio negócio, assim como aprendeu a lidar adequadamente com o dinheiro. Conheceu o mercado financeiro por volta de 2014, através do pai que comprara ações da Vale induzido pelo gerente da agência bancária onde tinha conta. Voltou para casa sem a certeza de que tinha feito um bom negócio, mas fez.


Anos mais tarde, endividado em R$ 40 mil por conta de uma reforma que havia feito na lanchonete, voltou à agência para tomar empréstimo para pagar o depósito de materiais de construção, que lhe vendera fiado. Foi quando o gerente o lembrou das ações. Valorizaram tanto que ele tinha o dobro da dívida. A partir daí ele se interessou pelo mercado financeiro e passou a incentivar Diego, que iniciou sua trajetória ao abrir conta em uma corretora e adquirir cotas de um fundo imobiliário.


Em 2020, o pai faleceu, vítima de câncer, e na herança deixada havia algumas ações, tudo dividido com a irmã e a mãe. “Minha parte eu guardei e comecei a comprar mais ações. Em 2022 aprendi um pouco sobre opções, mas eu queria algo mais agitado e comecei a estudar sobre day trade”, conta. Foi quando Sampaio conheceu um influencer, que o ajudou com mentoria e falou sobre mesa proprietária. Em outubro de 2023 entrou em uma mesa, mas não durou um mês e foi excluído por atingir o limite de perdas.


“Então eu comecei estudar mais e em janeiro deste ano comprei outro plano de mesa proprietária, mas com o objetivo de não só passar, mas também lucrar. No primeiro mês recebi um pouco, no segundo também, no terceiro fiquei negativo. Ainda não tenho consistência, mas na mesa a gente opera muito mais tranquilo porque não é o próprio capital e tem limites. Quando é dia de fúria tem uma trava, aí a gente não extrapola”.

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