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Empresas "turbinam" digital e IA com sistema lean

Especialistas em tecnologia da Embraer, Ânima Educação e Quality Digital explicam por que o modelo de gestão originário da Toyota precisa ser a base da atual transformação digital; e 20 executivos de 17 grandes organizações se encontram em São Paulo para compartilhar cases, experiências e aprendizados da área

Empresas "turbinam" digital e IA com sistema lean
Empresas "turbinam" digital e IA com sistema lean (Foto: Reprodução)

Empresas estão melhorando projetos de transformação digital e de Inteligência Artificial (IA) com o sistema lean, método de gestão originário do modelo Toyota. O sistema é adotado há décadas por empresas de diversos setores. E, agora, está “turbinando” a implementação dessas tecnologias de ponta nas companhias.


É o caso da Embraer, de São José dos Campos (SP), uma das maiores empresas aeroespaciais do mundo, que está unindo a gestão lean com IA para, por exemplo, melhorar processos relacionados a estoque e planejamento na produção de aviões.


“É uma das principais prioridades, hoje, da transformação digital na Embraer”, disse Giuliano Mendonça, head de Inteligência Artificial e Ciência de Dados da companhia.


Ele explica que, recentemente, por exemplo, a empresa reavaliou o fluxo de produção de aeronaves para detectar oportunidades de melhorias e eliminar desperdícios – operações essenciais no sistema lean. E identificou inconsistências na disponibilidade de componentes durante a produção.


Segundo o executivo, percebeu-se, então, que apesar de, no geral, os indicadores de estoque estarem bons, havia falhas pontuais ao longo das linhas. A partir daí a abordagem para a solução dos problemas foi orientada por dados, tendo como base a gestão lean.


“Reunimos dados históricos de todos os processos relevantes, analisamos o fluxo das atividades e identificamos chances de aprimoramento nas políticas de compras e de gestão dos estoques que poderiam diminuir desperdícios e cortar custos”, resumiu o head.


Segundo ele, já na fase inicial de implementação, após ajustes na gestão de compras e estoques, foi possível perceber uma economia considerável. “Agora, com a IA, pretendemos tornar esses processos ainda mais rápidos e eficientes”, resumiu Mendonça.


Lean em aplicativo educacional


Outro exemplo vem da Ânima Educação, quarta maior instituição educacional de ensino superior do Brasil em número de alunos, cuja rede une uma série de instituições famosas, como as universidades Anhembi Morumbi e São Judas. E que há 10 anos adota o sistema lean e tem utilizado o chamado “lean digital” também para melhorar o relacionamento das escolas do grupo com os estudantes.


Bruno Henrique de Macedo Machado, vice-presidente de Transformação Digital da empresa, explica que um exemplo recente disso foi o desenvolvimento do aplicativo educacional Ulife, utilizado por 400 mil estudantes para rotina de estudos e solicitação de serviços.


O aplicativo tinha notas 1.2 na App Store da Apple e 1.7 no Google Play. Para melhorar essa experiência, a empresa adotou duas práticas essenciais do sistema lean: “ir ao gemba”, o que significa ver com os “próprios olhos” os problemas no local em que eles acontecem, para analisar as causas raízes e propor soluções. E a “gestão visual”, que utiliza “quadros visuais” – analógicos ou digitais – para compartilhar, com os envolvidos, indicadores essenciais dos processos, também no sentido de revelar problemas e propor soluções.


“Tendo isso como base, fizemos um diagnóstico profundo sobre as oportunidades de melhorias. Em nosso caso, pelo nosso enorme volume de clientes e distribuição geográfica, isso exigiu constantes ‘gembas digitais’ e muita gestão visual digital”, disse o vice-presidente.


Segundo ele, a ação gerou um novo canal digital para acolher as manifestações dos estudantes, chamado de “Feedback Ulife”, pelo qual a Ânima já captou mais de 5.000 contribuições, colocadas num painel de gestão à vista, ao melhor estilo lean, que têm guiado os processos de melhoria contínua nas escolas.


Para Machado, nesse contexto, a gestão lean está orientando a empresa na definição do “norte verdadeiro”, outro conceito típico desse sistema, para guiar a aplicação de IA na companhia, direcionando, assim, os esforços das lideranças na aplicação de tecnologia.


“Podemos dizer que o sistema lean tem nos ajudado de maneira muito intensa a fazer a transformação digital ‘com’ o aluno e não ‘para’ o aluno, o que é bem diferente”, acentuou o vice-presidente da Ânima.

Sem desperdício de capital intelectual


Outro exemplo é a Quality Digital, empresa especializada em tecnologia que há 34 anos oferece soluções digitais ao mercado, hoje com cerca de 1.700 colaboradores e projetos em mais de 25 países.


Cássio Pantaleoni, Diretor de Artificial Intelligence Solutions and Strategy da companhia, explica que o sistema lean é, hoje, uma “base natural” para projetos de IA e de transformação digital, tanto nos processos internos da empresa, quanto para o desenvolvimento de soluções digitais oferecidas aos clientes. Em ambos os casos, o objetivo é revelar e eliminar desperdícios, aumentar a produtividade, gerar melhores experiências digitais e resultados mais efetivos.


“Isso tem gerado uma transformação muito profunda em nossos negócios, com um aumento expressivo de produtividade e efetividade, aliados a uma diminuição de pelo menos 20% da necessidade de novas contratações, tornando a empresa muito mais competitiva”, resumiu Pantaleoni.


Lean contra a “euforia digital”


Especialistas de longa data em desenvolvimento e aplicação de tecnologias, esses executivos da Embraer, Ânima Educação e Quality são unânimes ao afirmar que a transformação digital e o uso da IA necessitam ter como base a gestão lean.


“Utilizamos o lean para nortear a aplicação para além da euforia que há hoje em torno do assunto. Aplicamos a abordagem lean para a seleção dos casos que precisam de tecnologia, na mensuração do impacto no negócio, na aplicação, na avaliação dos aprendizados e na definição da escala”, resumiu o vice-presidente de Transformação Digital da Ânima.


Nesse contexto, segundo ele, o sistema lean se mostra obrigatório para se explorar as oportunidades oferecidas pela IA. “Entendemos o lean digital como uma extensão do sistema lean. Dessa maneira, ele entrega, ao final de um ciclo de melhoria contínua, soluções digitais mais eficientes e com maior aderência às necessidades dos clientes”, disse Machado.


Para o executivo, se bem aplicada, a gestão lean tem a capacidade de gerar uma transformação digital perene. “Que evolui continuamente a experiência dos clientes, gera eficiência operacional e habilita novas receitas. Além de evitar variações de desempenho, apostas não fundamentadas e falta de clareza do problema”, analisou o especialista da Ânima. 

Minimamente viável e humano


Para Mendonça, da Embraer, o sistema lean simplifica a transformação digital e coloca o cliente no centro. “Não é apenas digitalizar uma atividade ou automatizar fluxos de trabalho. É analisar os processos detalhadamente, identificar onde estão os desperdícios, as oportunidades de melhoria, os pontos fortes e fracos... Enfim, as lacunas a serem preenchidas”, resumiu.


Segundo ele, isso se materializa na construção de produtos mínimos viáveis, no desenvolvimento contínuo e incremental, possibilitando cocriar com os clientes, em lugar de elaborar projetos “isolados”. Mendonça explica que, na Embraer, a implementação de uma nova tecnologia precisa ser baseada no conceito de “ambidestria organizacional”.


“No nosso caso, isso significa aprimorar a tecnologia, as competências e habilidades, mas, ao mesmo tempo, reforçar o valor empresarial e de mercado, para proporcionar benefícios rápidos, principalmente aos clientes”. Segundo ele, o sistema lean é a “cola” que une esses dois lados do pensamento ambidestro.


Para o executivo da Embraer, pensar de forma lean ajuda também a evitar “débito técnico”, fenômeno comum no desenvolvimento de tecnologia. “Quando a gente pensa de maneira lean, nós paramos para resolver os problemas imediatamente, no exato momento em que eles ocorrem, não adotando soluções fáceis que, na verdade, possam esconder a falha.”


Além disso, explica o especialista, a gestão lean alia à tecnologia uma abordagem humana. “Que nos faz analisar muito os comportamentos humanos envolvidos. Isso requer mudanças significativas de atitudes, com relação a entender o potencial transformador que a tecnologia tem”.


Pantaleoni, da Quality Digital, explica que na empresa o “lean digital” é, hoje, uma “força norteadora”. “Ela direciona tudo aquilo que a gente faz. Sempre para trazer maior agilidade, produtividade e valor para o cliente”.


Cases, experiências e aprendizados


Esse assunto tem chamado bastante a atenção dos altos executivos de tecnologia das empresas. Prova disso é que 20 deles, de 17 grandes companhias – Embraer, Bradesco, Itaú, Mercado Livre, Dell, Globo, Intel, Ânima, Raízen, BRQ, CI&T, Quality Digital, Kinto, Nvidia, Softplan e Sintef –, vão se reunir em São Paulo (SP) para, num único dia, compartilhar cases, experiências e aprendizados sobre transformação digital e o uso de IA sob a ótica da gestão lean.


Será no Lean Digital Summit, dia 6 de agosto, no WTC Events Center, no prédio do World Trade Center, em São Paulo, que haverá 10 sessões temáticas, com um leque diversificado de temas, que irão da IA Generativa à disrupção digital, passando por mobilidade e até o papel da liderança.


O encontro ainda trará para o Brasil o conhecimento e a experiência prática de Daryl Powell, cientista chefe da Sintef Norway, um dos principais centros de pesquisa do mundo, professor doutor em diversas universidades na Noruega, Itália e Reino Unido, autor premiado de livros como “Routledge Companion to Lean Management” e “Lean Sensei”.


Para Erasto Meneses, head de Lean Digital Transformation do Lean Institute Brasil (LIB), a reunião desses especialistas e empresas vai aprofundar a expertise e o aprendizados em estratégias de transformação digital, em ciclos de discovery de problemas e em delivery de soluções.


“Tudo isso pode ser direcionado não apenas para o aperfeiçoamento das rotinas já existentes, mas também para a exploração de novos modelos de negócio, produtos e serviços”, disse Erasto.


Já em sua quarta edição, o Lean Digital Summit é organizado pelo Lean Institute Brasil (LIB), organização sem fins lucrativos de São Paulo (SP) que há 25 dissemina o sistema lean. Trata-se de uma filosofia de gestão que, em resumo, visa eliminar desperdícios, revelar e resolver problemas, aumentar a agregação de valor e desenvolver as pessoas em todo tipo de atividade


Para Christopher Thompson, diretor e especialista em lean digital do LIB, o Lean Digital Summit é um evento pioneiro no mundo, focado na fusão de estratégias de transformação digital com a cultura lean. “Nosso objetivo é inspirar líderes e organizações a aprimorarem resultados, promovendo um crescimento sustentável e aumentando a agilidade organizacional diante das rápidas mudanças do mercado”.


Já Flávio Battaglia, presidente do LIB, acredita que a gestão lean é uma base obrigatória da transformação digital e da IA porque, entre outras coisas, ela pode impedir que as empresas insistam no que mais ocorre hoje no mundo corporativo sem boa gestão: digitalizar o desperdício.

Serviço:


Lean Digital Summit, dia 6 de agosto, das 8h30 às 18h30. No WTC Events Center (World Trade Center, Avenida das Nações Unidas, 12.551, Brooklin Novo, São Paulo (SP). Mais informações e inscrições

https://www.lean.org.br/lean-digital-summit-2024.aspx 

Fundado há 25 anos, em São Paulo, o Lean Institute Brasil (LIB) http://www.lean.org.br/ é uma organização sem fins lucrativos que tem como missão melhorar as organizações e a sociedade através da prática da gestão lean. A visão do Instituto é ser continuamente reconhecido como a referência no Brasil do conhecimento sobre a prática lean. O LIB desenvolve atividades em todo o Brasil e coordena as ações da LGN (Lean Global Network) na América Latina.

Fonte:  vertical comunicação 


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