O preço de ser autista no Brasil': uma batalha por diagnóstico e inclusão 85% dos profissionais com
85% dos profissionais com autismo permanecem fora do mercado de trabalho, diz pesquisa do IBGE; entenda os desafios do autista desde a infância até a vida adulta
Em geral, conviver com o autismo no Brasil implica enfrentar uma série de obstáculos que não apenas afetam a trajetória individual, mas também impactam a sociedade como um todo. Desde o acesso limitado ao diagnóstico até a luta constante pela inclusão no mercado de trabalho, cada etapa da vida pode se tornar uma batalha contra a falta de compreensão e apoio adequado.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cerca de 85% dos profissionais com autismo permanecem fora do mercado de trabalho, considerando o número da OMS, o país tem mais de 1.7 milhão de desempregados.
No mercado de trabalho, a batalha pela inclusão é uma realidade diária. A falta de compreensão sobre o autismo pode levar a preconceitos e discriminação no ambiente de trabalho, tornando difícil para os autistas encontrar e manter empregos que se alinhem com suas habilidades e interesses.
A autista e TDAH, creator e palestrante, co-fundadora do Meu Mundo Atípico Club com foco em autismo para adultos, Tabata Cristine, trouxe seu relato sobre um processo seletivo que participou como PDC.
“Participei de um processo seletivo há alguns anos já, para uma vaga em uma grande empresa e quem fez esse processo seletivo foi uma empresa terceirizada, especializada no recrutamento e seleção de pessoas com deficiência. Fui muito bem na entrevista, a recrutadora, super me elogiou, mas eu nunca tive retorno dessa vaga. Não tive qualquer sequência, mesmo que eu tenha ido super bem na entrevista, parou por ali mesmo. Passou um tempo e em contato novamente com essa empresa, a pessoa que me atendeu ali não sabia que sou autista. E aí perguntei sobre como eles lidam com currículos, com perfis de pessoas autistas para as vagas de PDC para grandes empresas. E ela me falou que eles não consideram pessoas autistas para as vagas,” comenta durante sua participação no 2º Congresso Extraordinário.
A inclusão dos autistas no mercado de trabalho é respaldada pela Lei 8.213/91, que trata dos planos de benefícios da previdência social, mais conhecida como lei de cotas. Em seu art. 93, a lei estabelece cotas para a contratação de pessoas com deficiência em empresas com 100 ou mais empregados, mas essa contratação não acontece, porque muitas das vezes os recrutadores não enxergam o autismo como uma deficiência.
“A gente é considerado PCD, mas nem todo mundo considera o autista como pessoa com deficiência. Nós não temos acesso a muitas coisas que pessoas com deficiência geralmente já tem dificuldade de ter acesso, mas ainda tem um pouquinho de acesso e nós, autistas, ainda estamos batalhando para chegar lá”, acrescenta Tabata.
Todas essas barreiras encontradas desde a infância, passando pela adolescência, juventude e vida adulta abala psicologicamente os autistas. A incompreensão da sociedade sobre o autismo levam ao isolamento e à falta de oportunidades para interações sociais significativas. No estudo “Cuidando de quem cuida: um panorama sobre as famílias e o autismo no Brasil”, realizado pela Genial Care, 29% dos autistas sofrem com transtornos de ansiedade e 4% têm distúrbios do sono, epilepsia ou Transtorno Opositivo-Desafiador.
Já a pesquisa da National Autistic Society mostra que 66% dos autistas já pensaram ou ainda pensam em suicídio em algum momento da vida, e que até 35% já planejaram ou tentaram suicídio. Além disso, pessoas com TEA são até quatro vezes mais propensas a sofrer de depressão ao longo da vida.
Em suma, o “preço” de ser uma pessoa autista no Brasil é alto, multifacetado e muitas vezes injusto. Enfrentar obstáculos em todas as áreas da vida, desde o acesso ao diagnóstico até a inclusão no mercado de trabalho, é uma batalha contínua e exaustiva. No entanto, ao aumentar a conscientização e promover uma maior compreensão e apoio para os autistas, podemos trabalhar juntos para criar uma sociedade mais inclusiva para todos.
A 2ª edição do Congresso Extraordinário, evento essencial para ampliar a conscientização sobre o autismo, que em sua primeira edição impactou mais de 7 mil pessoas, contou com uma série de palestrantes e convidados de destaque, como: Léo Piotrovski (@leopiotrovski), autista, nível 2 de suporte, TDAH e TAG, conteúdo informativo, didático e humorístico; Tabata Cristine (@tabata_meumundoatipico), autista e TDAH, creator e palestra, co-fundadora do Meu Mundo Atípico Club com foco em autismo para adultos; Akin (@heyautista); Jéssica Borges (@soujessicaborges), educadora, palestrante, mãe do Ravi e mulher autista com TDAH e AH/SD; Renata Formoso e Noah (@nocaminhoeuteexplico), mãe atípica e autora do livro “Nina vai ao Brasil”; Tio Faso (@seeufalarnaosaidireito), autista e TDAH, e ativista, além do grupo de especialistas da healtech.
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Genial Care
A Genial Care é uma rede de cuidados de saúde atípica referência na América Latina. Especializada no cuidado e desenvolvimento de crianças com TEA (Transtorno do Espectro Autista) e suas famílias. Unindo modelos terapêuticos próprios, suporte educacional e tecnologia de ponta para maximizar a qualidade de vida e o bem-estar de todas as pessoas envolvidas no processo de intervenção. Atualmente conta com um time de mais de 200 pessoas, unidas pelo propósito de garantir que toda criança atinja o seu máximo potencial. Site / YouTube / Instagram / Facebook / LinkedIn
Fonte: agência temma
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