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O impacto do machismo estrutural na diversidade e inclusão

Patricia Punder, advogada e CEO da Punder Advogados

O impacto do machismo estrutural na diversidade e inclusão
O impacto do machismo estrutural na diversidade e inclusão (Foto: Reprodução)



O machismo estrutural permeia todas as esferas da sociedade, deixando marcas profundas e perpetuando desigualdades de gênero. Esse sistema de crenças e práticas sociais tem um impacto significativo na diversidade, limitando as oportunidades e experiencias de mulheres e pessoas de gêneros não binários.

Em primeiro lugar, o machismo estrutural afeta a representação e participação das mulheres em diversos setores, como política, ciência, tecnologia e negócios. As barreiras invisíveis impostas pelo machismo dificultam o acesso das mulheres a cargos de liderança e tomada de decisão, resultando em uma falta de diversidade de perspectivas e abordagens nos espaços de poder.

Um estudo do DataSenado mostra um aumento na percepção de desrespeito à mulher no ambiente de trabalho do que em outros lugares, a porcentagem subiu de 17% para 25% em 2023. Já a pesquisa realizada pela Universidade de São Paulo (USP) e o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), “Profissionais liberais lésbicas no mercado de trabalho brasileiro”, 60% das mulheres já sofreram algum tipo de discriminação no trabalho por conta da sua orientação sexual, e, também, cerca de 40% presenciaram algum tipo de assédio sexual ou moral.

Além disso, o machismo estrutural contribui para a disparidades salariais entre gêneros, com mulheres ganhando menos do que os homens em trabalhos similares, ou até mesmo iguais. Essa desigualdade econômica não apenas impacta o bem-estar financeiro das mulheres, mas também perpetua o ciclo de pobreza e dependência econômica.

No campo da saúde, o machismo estrutural se reflete em políticas e práticas que desvalorizam a saúde reprodutiva e mental das mulheres, além de dificultar o acesso a serviços de saúde adequados. Isso resulta em lacunas na prestação de cuidados e na marginalização de saúdes específicas das mulheres.

Na cultura e na mídia, o machismo estrutural se manifesta através da objetificação e esteriotipação das mulheres, reforçando padrões de beleza irreais e papeis de gênero tradicional. Isso não apenas limita a expressão individual, mas também perpetua normas prejudiciais de comportamento e relacionamento.

No campo da violência, o machismo estrutural se reflete na cultura da violência contra a mulher e na cultura do estupro.  A violência contra a mulher não causa somente danos físicos e psicológicos, mas também cria uma situação de medo e insegurança que impacta toda a sociedade. 

Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 10.655 mulheres foram assassinadas entre 2015 e 2023, o levantamento só leva em conta os casos que foram registrados oficialmente pela polícia, ou seja, os números podem ser muito maiores. Além disso, o país registrou um recorde lamentável de 1.463 vítimas de feminicídio em 2023, representando uma taxa de 1,4 mulheres mortas para cada grupo de 100 mil habitantes.

Esta mesma cultura que normaliza e justifica a violência contra a mulher pode se tornar pior, uma vez que surge a violência sexual. Isso se reflete em atitudes de culpabilização da vítima, minimização do impacto do estupro e impunidade para os agressores, criando um ambiente hostil e perigos para as mulheres em todos os lugares.

Quando combatemos o machismo estrutural estamos contribuindo para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária. Isso porque esses dois conceitos estão intrinsicamente ligados: a igualdade de gênero somente pode ser alcançada quando reconhecemos e confrontamos as estruturas de poder que perpetuam a desigualdade, e a diversidade é essencial para garantir que todas as vozes sejam ouvidas e consideradas.

Além disso, a promoção da diversidade não beneficia apenas as mulheres, mas a sociedade como um todo. Empresas e organizações mais diversas são mais inovadoras, criativas e produtivas. Da mesma forma, comunidades diversificadas tendem a ser mais resilientes e adaptáveis as mudanças.  Portanto, investir na promoção da diversidade não é apenas uma questão de justiça social, mas também uma estratégia inteligente para o crescimento e desenvolvimento sustentável.

No entanto, é importante ressaltar que o combate ao machismo estrutural e a promoção da diversidade não são uma tarefa fácil. Exigem o esforço coletivo e contínuo de todas as partes da sociedade, desde governos e instituições, até indivíduos em suas interações. Isso requer a implementação de políticas e práticas que promovam a igualdade de gênero e a inclusão. Isso inclui a adoção de quotas de gênero, a implementação de programas de conscientização e treinamento, a criação espaços seguros e inclusivos para mulheres e pessoas da comunidade LGBTQIAPN+.

Concluindo, a importância do combate ao machismo estrutural e a promoção da diversidade não pode ser subestimada. São dois pilares fundamentais para a construção de uma sociedade mais justa, igualitária e inclusiva. Somente através do reconhecimento e confronto das estruturas de poder que perpetuam a desigualdade de gênero e da valorização da diversidade em todas as formas, poderemos alcançar uma sociedade onde todos possam viver com dignidade e respeito.

Patricia Punder, é advogada e compliance officer com experiência internacional. Professora de Compliance no pós-MBA da USFSCAR e LEC – Legal Ethics and Compliance (SP). Uma das autoras do “Manual de Compliance”, lançado pela LEC em 2019 e Compliance – além do Manual 2020. 

Com sólida experiência no Brasil e na América Latina, Patricia tem expertise na implementação de Programas de Governança e Compliance, LGPD, ESG, treinamentos; análise estratégica de avaliação e gestão de riscos, gestão na condução de crises de reputação corporativa e investigações envolvendo o DOJ (Department of Justice), SEC (Securities and Exchange Comission), AGU, CADE e TCU (Brasil). www.punder.adv.br

 

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