Após disputa acirrada, São Paulo confirma segundo turno clássico entre direita e esquerda
Fontes: Fábio Andrade, cientista político e professor do curso de Relações Internacionais da ESPM, e Paulo Ramirez, cientista político e professor da ESPM
06/10/2024 22:32
Em São Paulo, após primeiro turno eleitoral com diversas polêmicas promovidas pelos candidatos durante os debates, Guilherme Boulos e Ricardo Nunes foram os mais votados para disputar o segundo turno na capital paulista. Em uma disputa acirrada, a cidade foi a última capital nacional a ter a definição dos resultados. Apenas com 99,52% das urnas apuradas foi possível confirmar. “Acabamos tendo um turno clássico, de direita versus esquerda. Há muito tempo não víamos três candidatos somarem mais de 85% dos votos. Foi muito acirrado e pela primeira vez tiveram dois candidatos mais à direita disputando de forma significativa os votos”, diz Fábio Andrade, cientista político e professor do curso de Relações Internacionais da ESPM.
Para o segundo turno, Paulo Ramirez, cientista político e professor da ESPM, diz que existe uma clima de ‘já ganhou’ no comitê de Ricardo Nunes. “A maioria das pesquisas indica uma vitória com certa facilidade no segundo turno entre os dois candidatos. A distância entre os três primeiros foi muito pequena e isso cria um cenário de mais otimismo para o Ricardo Nunes.” O professor destaca que dificilmente o candidato da direita perde a eleição. “A não ser que aconteça algo absolutamente imprevisível, divulgação de algum escândalo, ou até mesmo essa figura imprevisível que é o Marçal solicite que seus eleitores não votem no Ricardo Nunes, é a única chance que eu vejo para o Guilherme Boulos ter algum sucesso. Acho difícil isso acontecer. Há uma tendência, inclusive, do Marçal apoiar. Ou ficar em silêncio, o que também ajudaria o Nunes."
Sobre Pablo Marçal, o professor Fábio Andrade diz que é preciso entender qual o objetivo dele com a candidatura. “A entrada de novos atores políticos é desejável, mas a forma como ele fez essa entrada quebra todo e qualquer protocolo mínimo sobre política. Ele pode ter um futuro dentro da política ou seguir na internet vendendo os cursos e até novos produtos voltados para a política. Mas a verdade é que o futuro do Marçal vai levar em conta outros dois futuros, o do TSE e da imprensa.” Para Andrade, o TSE e a imprensa fizeram um jogo que beneficiou muito o Marçal. “TSE e imprensa vão precisar repensar muito a forma de atuação ao lidar com políticos de extrema direita. As leis que existem e a postura da imprensa não são as mais adequadas para enfrentar candidatos que são tipicamente anti-sistêmicos. Discutir o futuro do Marçal é discutir o que essas instituições farão. Não fazer nada não é uma possibilidade.”
Para Paulo Ramirez, Marçal deixou uma herança muito perversa nas campanhas eleitorais, seja pelo tipo de estratégia ou linguagem utilizada nos debates e redes sociais. “Foi uma das campanhas mais empobrecedoras da história aqui em São Paulo. Mesmo derrotado ele sai vencedor do ponto de vista de projeção da sua imagem. Fora da política agora, mas nas redes sociais segue angariando mais seguidores e certamente muitos milhões de reais.”
Ao considerar o desempenho de Tabata Amaral, Fábio Andrade destaca o capital político da candidata. “Em uma eleição tão disputada, 10% dos votos podem parecer pouco, mas para uma primeira candidatura em um cenário de polarização, apresentando como uma candidata de centro, mostra que ela tem um capital político. Foi a primeira a tomar a frente e já manifestar voto no Boulos. O posicionamento pode ser importante e cria um futuro bastante interessante para ela.”
Em relação às pesquisas de pretensão de votos, o professor destaca que os institutos acertaram. “Todos eles mostraram o cenário apertado em São Paulo. Os institutos de pesquisa podem ter errado em 2022, porque estavam trabalhando com o Censo desatualizado e aprendendo a lidar com cenário de polarização. Para 2024, eles calibraram.”
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